segunda-feira, 26 de julho de 2021

NESSE APARTAMENTO


Neste apartamento, sem ninguém, só eu não serei estranho,
só eu encontro companhia, pois em suas formas continentes
tenho vivido.

As cousas me conhecem, me olham, me recebem, me aconchegam
principalmente quando estamos inteiramente a sós
porque então nada lhes tolhe a infinita timidez.

Meus livros me esperam - nas margens deixei-me ficar ,-
gravei mudos pensamentos em suas entrelinhas,
ampliei-os, e só aos meus olhos tem tantas páginas
que outros não lerão jamais.

E estes dois jarros simples, se não os encontrasse mais
seria como se mutilassem meu mundo;
estes quadros representam configurações que só minha
imaginação criou
e estão na parede, como a nuvem no céu.

Minha cama, oh! estender-me, horizontal a humilde,
e encontrá-la sempre à espera
sem um reclamo, uma exigência,
branca a macia como um gesto de enfermeira,
minha cama, meu chão de cada noite de cansaço e amor.

Minha mesa - ao seu lado sentei-me tantas vezes diverso
como um deus - capaz de criar mundos sobre suas quatro pernas,
ou simplesmente humano, a receber o pão,
minha mesa, palco onde minhas mãos representam seu destino
na eterna cena que imagino e crio.

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