Duas máquinas
Altas horas, no silêncio da minha
rua sem ônibus
sem bondes,
ouço distante uma máquina que
escreve.
Será sofrimento, será alegria,
será apenas trabalho
esta música que vem de dentro da
noite
de um apartamento, em que andar?
Paro de escrever e escuto, e
escuto o seu bater nervoso
telegrafando ao meu pensamento.,
como se respondesse, num
misterioso código, às minhas mensagens.
Que coisas dirão aquelas teclas batendo,
batendo ininterruptamente
como um coração assustado?
A quem se dirigirão, nessa
ansiedade estranha de S. O. Ss. emitidos
para vazio mar, sem resposta e
esperança?
No silêncio da noite, altas horas,
bato as teclas da minha máquina,
como quem responde a alguma
mensagem,
como quem dá esperança a um apelo
ignorado.
No mistério deste diálogo sem
palavras, inarticulado,
- fiandeiras misteriosas estão
tecendo poesia as duas máquinas,
estão semeando, estão enchendo à
noite de sugestões,
estão vivendo.
Que importa se seus S. O. Ss. se
perderão na noite alta e vazia,
onde navegam como cargueiros,
pesados sonos burgueses.
Que importa? se elas fazem poesia.
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