quarta-feira, 28 de julho de 2021

DUAS MÁQUINAS

 

Duas máquinas


Altas horas, no silêncio da minha rua sem ônibus

sem bondes,

ouço distante uma máquina que escreve.


Será sofrimento, será alegria, será apenas trabalho

esta música que vem de dentro da noite

de um apartamento, em que andar?


Paro de escrever e escuto, e escuto o seu bater nervoso

telegrafando ao meu pensamento.,

como se respondesse, num misterioso código, às minhas mensagens.


Que coisas dirão aquelas teclas batendo, batendo ininterruptamente

como um coração assustado?

A quem se dirigirão, nessa ansiedade estranha de  S. O. Ss. emitidos

para vazio mar, sem resposta e esperança?


No silêncio da noite, altas horas, bato as teclas da minha máquina,

como quem responde a alguma mensagem,

como quem dá esperança a um apelo ignorado.


No mistério deste diálogo sem palavras, inarticulado,

- fiandeiras misteriosas estão tecendo poesia as duas máquinas,

estão semeando, estão enchendo à noite de sugestões,

estão vivendo.


Que importa se seus S. O. Ss. se perderão na noite alta e vazia,

onde navegam como cargueiros, pesados sonos burgueses.

Que importa? se elas fazem poesia.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hoje estou triste

  Hoje estou triste Amor... Hoje estou triste... Nesses dias a vida de repente se reduz a um punhado de inúteis fantasias... ... Sou uma pro...